CRÔNICA E CONTOS (Borges e Garcia)
A ÉTICA DE DEUS
Já
escrevi aqui sobre a ética de Deus.
Nada
ofensivo, pois apenas faço perguntas e não me arrisco responder. Aliás, aos
pregadores certamente cabem as respostas, as quais são muitas. Vão aos
milhares. Tem religião no mundo para todos os gostos.
Já
aviso antes que acredito em Deus.
O
que não entendo é seu comportamento ético.
Explico:
há criancinhas que já nascem com doenças terríveis, incuráveis, tornando-se um
poço de dor e, por lado outro, nascem pequenos monstros morais como Sarney, Renan,
Palocci, Zé Dirceu e tantos outros plenamente sadios, capazes, eficientes para
desgovernar um país inteiro, cometendo crimes monstruosos.
Ora,
admitindo que Deus seja um ser lúcido, hábil, poderoso, por que permitir a
existência de tais fatos? Para desafiar a paciência de nós, pobres mortais? Não
creio. Deus não é um brincalhão.
E
depois fico imaginando: se Ele permitiu que um misero mortal como Pilatos
pregasse seu Filho Amado na cruz, o que Ele não deve deixar que aconteça a
outros não tão amados?
Quando
olho a imensidão do Universo e nem consigo avaliar sua grandeza, fico a pensar
em como ele mantem aqui nesta pequenina terra a nossa existência e a continuidade
da vida. Aqui, incontestavelmente, é a lei dos mais aptos. Na escala da vida os
mais habilidosos, do verme ao grande elefante, vivemos sob as mesmas condições
rígidas da Lei de Darwin. Ou adaptamos ou não viveremos.
É
esta a Lei? Isso Darwin provou.
Deste
modo somente cabe-me pensar que Deus é uma Lei. Uma lei como a gravidade, que
embora não sabendo de sua existência rege soberanamente todo o universo. Subiu,
escapou do telhado, estatelou no chão.
Esta
a intricada, inexplicável, incompreensível ética de Deus que, por ser tão
simples a todos nem parece ser notada.
Uma
boa semana a vocês.
Abraços.
J.
R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>